segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Carta ao soldado

Mesmo que não tivesse sido convocado, essa seria a sua missão. Seu destino (se é que isso existe) o projetou a enfrentar esta batalha. E você sabe que, mesmo que sua razão dissesse “não”, a resposta seria “sim”, pois ela viria do coração.
Foi preciso mudar velhos hábitos, enxergar novos horizontes, novas possibilidades, respirar novos ares. Soube que você foi de peito aberto e com poucas armas, mesmo sabendo que precisaria matar um exército inteiro sozinho por dia.
E você o fez.
Aprendeu a matar seus inimigos, seus medos, e até a se esconder quando foi preciso. De trincheira em trincheira você ganhou terreno, coragem e experiência. A cada grito de socorro que você ouviu, tentou ajudar da melhor maneira possível, com seu suposto sangue frio.
Quem disse “sim”, se você bem lembra, foi seu coração e seu sangue, quente, o fez se perguntar quando seria a sua vez de pedir ajuda. O medo é importante, pois traz consigo a astúcia para agir e a cautela para vencer.
Você travou as suas batalhas, não a de outros. Você conquistou o seu objetivo, não o de outros.
Enfrentou seus inimigos pessoais, íntimos, e venceu.
Você venceu, soldado. Venceu para o seu bem.
Você sobreviveu, soldado. Sobreviveu sem prejudicar ninguém.
Já sabe qual será a próxima batalha?
Espero que seja, também, por amor e paz, ou coisa que o valha.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Ostentação

Os senhores, dos fundos de seus copos de whiskey
Importados da Escócia
De onde sequer conhecem a história
Divagam pelos jantares

Suas senhoras, do alto de seus saltos Luís XV
Adiquiridos em viagem à Paris
Desfilam pelos jantares

Os filhos pensam pairar, por uma fração de segundo, no ar
Quando da alta velocidade de seus jet-skis
A cavalgar sobre as águas do rio

É preciso livrar essa cultura
De precisar ser como eles
De tentar ser como eles
É preciso livrar essa tortura

A vida social, porém,
Pede que nos encontremos
Entre quatro paredes quaisquer
Erguidas abaixo de um teto de vidro

Se faz-se necessário aparecer
Então ostento tudo o que tenho
Não tenho muito a mostrar
Mas o amor, até o fim, vou ostentar